sábado, 10 de novembro de 2007

A Casa - D. Donson

Onde fica minha casa?
No fim da estrada, na ponta do nada, onde eu costumo brincar.
Atrás do horizonte, no cume do monte que não paro de olhar.
Na beira do cais, que me permite transportá-la para qualquer lugar do mundo.
Quando quero, mergulho bem fundo, por vários minutos e ela ainda está lá.

Como é a minha casa?
Uma obra prima da arquitetura incompreendida. Não precisa de janelas ou entradas.
Se adapta a cada ocasião, a cada tipo de chão e nunca me deixa sozinho.
As visitas não são freqüentes. Uma casa ambulante, que sempre andou errante,
Por milhas distantes, não soube parar, criar raízes ou estacionar.

Não quero mudar, pois todos os dias sou concebido aqui.
Desperto com um céu azul metafórico, que enche meu leito de inspiração.
Então suspiro e me indago para que as pessoas colocam tetos sobre suas cabeças.
E quando chove, cria-se a condição ideal para uma nova gestação.

Por isso que gosto da casa. Nada me cobra, tudo me proporciona.
Não deseja que eu coloque relógios em sua única parede anormal.
Nem regue o obsoleto jardim que eventualmente nos cerca.
O tempo não é um enfado para nós, e sim, um aliado incondicional.

Nunca sei para onde vou. Contudo, na casa posso ter a paz e o descanso que mereço.
Uma vez tentei parar, ter vizinhos. Até plantei algumas vinhas e sonhei que iria colhê-las
Porém, na matina, vieram as raposinas e destruíram minhas vinhas – quase enlouqueço!
Nunca mais me fixei num canto sequer. Ninguém sabe se ocupo ou não lugar no espaço.

Mas a casa está ficando velha e cansada de peregrinar. E eu estou com os ossos moles e finos.
Sei que isto é coisa do tempo. Pensei que tivéssemos um trato, uma aliança.
Pelo que vejo ele está querendo cobrar algo. Está batendo seus malditos sinos.
E a minha moderna casa caiu, como um castelo de areia. Acabou nossa andança.

Hoje estou me arrastando, pedindo abrigo, de porta em porta.
O elixir se esgotou, quando se encerrou a jornada.
Descobri que a felicidade está no caminho e não propriamente no destino.
Entretanto, não construí vínculos, achando que para sempre teria a casa – que nada!
Desconsiderei o fator de que o tempo poderia mudar.
Agora me vejo em tetos fechados, lamentado a dor.
Se meus ossos permitirem, ainda vou construir uma nova casa para lá ir morar.
Contudo, não sei viver a longo prazo. Reconstruir exigirá um novo acordo com aquele traidor.

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