quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Nós, os sonsos - Por D. Donson


É dada a largada. De todas as partes, do beco mais improvável da cidade aparecem candidatos sorridentes e eloqüentes, ávidos pela conquista dos votos que significarão quatro anos estabilidade. Oras, hoje em dia quem consegue receber seis mil reais, trabalhando poucas horas por dia? O pré-requisito é persuadir mil semelhantes a acreditarem na sua benevolência, altruísmo e principalmente visão de melhoramento social.
Os tímidos se tornam extrovertidos, os vulgares forjam certo freio moral, os leigos se esforçam na oratória e os corruptos, ah os corruptos se elegerão involuntariamente. Tudo o que obviamente não presta sempre me interessou muito. De tal modo que adoro analisar o perfil de cada candidato. O que, entretanto, tem me incomodado são os nomes irônicos e antológicos que eles lançam mão, a fim de se elegerem com mais facilidade.
Os candidatos acreditam, depois de brevíssimas lições de psicologia social, que se nós, os sonsos essenciais, associarmos seus nomes a seus negócios iremos de boa fé depositar nossos votos. Afinal, que motivo teríamos para desconfiar da competência de alguém que comanda um ‘buteco’, de quem lida diariamente com o alcoolismo? É que de repente nasceu a utopia da mudança e todos querem ser políticos para mudar as estruturas atuais: pelos menos as individuais, é claro.
Como dizia Nelson Rodrigues: “hoje em dia é difícil ser honesto. Todas as pressões cooperam para nosso aviltamento pessoal e coletivo”. Como posso acreditar na eficiência de alguém que sequer conhece a etimologia da palavra política? Tudo bem sobre a etimologia. Mas como posso acreditar na eficiência de alguém que apenas sabe juntar sílabas e sequer compreendeu as mendacidades que estou abordando? Quero a exposição de tudo, embora a verdade seja um relance que poucos captam, pois ela ainda não foi escrita – está nas entrelinhas.
Estou sendo manso, mas minha função de viver e denunciar a vida é feroz. Eles estão subestimando nossa capacidade mental, apelando para recursos prosaicos de associação. Se é necessário associar, é porque nunca ouvimos falar; logo, a procedência é dubitável.
Sinto é uma falta pungente de sinceridade em todos. Fala-se em democracia e cidadania, mas estes direitos que velam meu sono são tão irreais. Pago tanto e recebo tão pouco. É isto que eles têm para me oferecer? Às vezes não entender o funcionamento evita dores. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, uma doçura de burrice.
Porém, não posso ser arbitrário. As pessoas são iguais potencialmente. Pode ser que o inesperado traga coisas e a política se regenere, pois a eternidade é o estado das coisas neste momento, é próprio "statu quo". Estou certo de que não seremos enganados, não mais. Nós, os sonsos essenciais, somos no mundo de várias formas para preservar nossa liberdade. Na verdade a gente é sempre como você vê: podemos ser leves como uma brisa, ou fortes como uma ventania. Depende de quando e como nos vêem passar.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A Pragmática da Educação - Por D. Donson

O modelo educacional que observamos atualmente é ilusório e carente de reformas. Os valores da sociedade contemporânea estão aquém do que um dia se convencionou chamar de Educação. Inúmeros fatores contribuem para o que, usualmente, costumo chamar de Alienação Generalizada e que abrange todas as classes, credos e raças, indiscriminadamente.
A verdadeira lucidez, como eu a digo, se manifesta exclusivamente através da educação. Contudo, até mesmo o conceito de educação se encontra deturpado. O ambiente escolar, que ideologicamente seria um espaço destinado à prospecção do capital intelectual e cultural das pessoas, tornou-se um mero pré-requisito curricular, para uma posterior boa colocação profissional, para um posterior bom salário, para um posterior bom carro, para um posterior bom apartamento, para uma posterior vida medíocre repleta de coisas e que é encerrada sem a menor essência existencial permanente – que é a revelação do lobo do homem e a escolha particular de proteger as ovelhas perdidas, pois toda ovelha é burra.
E as pessoas continuam em suas rotinas frenéticas, sem ao mesmo contemplarem o objetivo sublime de fazer o que fazem, de buscar um aperfeiçoamento maior.
Daqui de baixo tenho visão panorâmica dos mundos, porque não me enquadro em sistema algum. Tenho um “contra-alguma-coisa” que me norteia nos constantes contatos que faço com o mundo real. Não possuo classe social: a classe alta me acha um monstro, a média teme que eu possa desequilibrá-la e a baixa nunca vem a mim. De modo que minha percepção sobre ser e estar e ser e ter, tem se tornado meu grito de ave de rapina, irisada e intranqüila. Espero acordar outros seres gritantes para que, em uníssono, possamos dar o grito de aviso de estarmos vivos.
Entendo o porquê a escola continua em alta, com sua grade estupidificada. No ato da matrícula, a premissa é acordada: nunca questionar demais, dúvida é coisa de perigosa - mata. Assim, todos os que se atrevem a entender, desorganizam o esquema. Sobretudo a educação de hoje está fadada ao protocolo e as regras. Ela deveria vista como um processo contínuo visando a autonomia da pessoa humana. O triste fato é que, bem ou mal, com advento das tecnologias, o ensino está cada vez mais mecânico e defasado. Para que pensar em gramática? O “Word” corrige.
A internet informa, mas não forma pessoas analíticas ou efetivamente preocupadas com algum tipo de mudança estrutural, social ou não – inércia coletiva. O "Eu" e o "Meu" são predominantes em todos os aspectos da vida. Trato de fatos abstratos e ocultos, mas enquanto tiver perguntas e não obtiver respostas, continuarei a escrever.