sexta-feira, 23 de março de 2012

Alegria, a rosa rara - D. Donson


A vida das pessoas é um pouco triste e um pouco solitária. Queria tanto sentir menos a realidade dos outros. E que é a minha também. Queria tanto presentear os outros com o meu melhor, a minha presença. Mas uma alegria para o outro é rosa rara de se dar.

terça-feira, 13 de março de 2012

No light, no light - D. Donson


Perdi o texto. Não bastassem todos os pensamentos que estouram como bolhas de sabão na parede de minha mente, esqueci-me de salvar meu último texto. Isso é sintoma de que não acredito na interferência do que escrevo. Não muda nada. Então por que continuar a ver na palavra a solução última para um mundo todo em si incognoscível , misterioso e cheio de silenciosas eras a subirem por minha alma adentro, alma cada vez mais cansada, oh Deus, cada vez mais cansada?

Eu olho no espelho e o que vejo é a sombra do que fui um dia. Mas as pupilas são as mesmas e conservei a obstinação no olhar, obstinação de quem está prestes a atacar o outro, o animal feroz, o ser excepcional escondido e amarrado para não ferir. Pelo que vejo não aprendi as lições básicas, nem amar eu sabia. Nem amar eu sabia. E tampouco fiz do meu futuro um caminho percorrível por qualquer outro além de mim. Caminho sozinho, com a suave medida da solidão. Uma solidão moderada e totalmente adaptável como a minha própria sombra.

E quantas não foram poucas as vezes que pensei em desistir. O ímpito de continuar. O ímpito de continuar em detrimento de qualquer coisa, em detrimento do amor, do amor e sua tragédia, do amor e seu fiel escudeiro, o ódio!

Ah, Deus, perdoe essa incompreensão de mim mesmo, perdoe eu não querer por um instante a humanidade que me foi dada, perdoe essa minha voz embrutecida de quem não conhece nada senão o grito, o baixo grosso da dor. É porque há a esperança, mas ela não se manifesta para os pobres de espírito como eu. E há a vida, há o amor, há a paz. Paz? Eu que sempre rezei tanto. Não, não tive a minha medida de paz.

Mas não vou morrer sem ser um pouco feliz, sem experimentar de tudo, até o inferno e seus demônios. E não corrigirei uma sílaba da minha oração, por três vezes perdi meu texto, que inferno é esse? Pois que fique este vômito irracional espalhado por esta parede sonsa e obscura de sentidos e que me perdoe também os que estiveram em novidade de espírito. Era somente isso que eu queria. Era somente isso que eu queria.