quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Quase... - Luiz Fernando Veríssimo


Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.

A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance; para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.

Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

3 comentários:

Cintia Ferreira disse...

Realmente o quase é mortal!
Concordo siiiimm!
;)

bjo

Thayla Ramos disse...

Belo texto Dani,
Ah seu eu conseguisse exterminar os "quase" da minha vida.....


Beijo! :)

Isabela Pizani disse...

Eu quase concordo com tudo.
Sim, pois, há o lado bom de existir os "quase".
Ora, acaso é ruim que exista um "quase sempre" ou "quase nunca", posto que a existencia de possibilidades de acontecer diferente trazem esperança, ou talvez até o medo, como poderia o quase ser mornidão e por inteiro de ruim caráter?
Sim, pois, o que seria dos romances se não fossem os "quase juntos" até chegar o final?
E como poderia haver o realizar sem sonho? Ou o fazer sem planejar, posto que decidir assim já é planejar fazer alguma coisa?
E mais, acaso a vida também não é feita de esperar? É quase hora, mas ainda não é. Perceba os livramentos que te dá o quase tempo. Vocês escapa de muitas precipitações, pra não dizer depois, no final: "quase acertei no tempo".

Querer que seja o quase um ruim absoluto é quase permitir-se experimentar das emoções das incertezas, do mistérios do por vir. Sim, pois, mornidão mesmo é o tanto faz, mas não em tudo e absoluto. Rotina até vai bem quando se quer o sossego, mesmo que sesassossegado com as mesmísses conformadas.
Ah, mas eu não sou daquela gente que acredita na relatividade das coisas em tudo.
Porém, vida sem os "quase" é quase sempre sem graça, posto que os nossos "quase" são tempêros pra nossa existência.
Até porque, QUASE CONSEGUIR, de forma alguma é NÃO TENTAR.
Embóra eu concorde que quase viver é já estar morto.


Um Beijão!