Antes de raiar o sol, descia rio abaixo o jovem Cuabara. Em sua rotina diária, a única forma de se deslocar da comunidade em que vivia até a cidade mais próxima, era através de rústicas e alternativas barcas indígenas.
Obstinado, Cuabara não media esforços para concretizar seu maior objetivo: deixar sua comunidade ribeirinha e partir rumo aos Estados Unidos da América. Jovem de dores, experimentado nos mais diferentes trabalhos braçais, não se sentia porém em desvantagem com os garotos da cidade grande, nem física ou intelectualmente. Tinha sede de vida. Sede esta, que não era saciada, pois não sabia como fazê-lo. Sonhava com uma viagem intensa e, porque sonhava, a viagem existia. Num de seus cadernos escolares lia-se: ”Entre a parede e a espada, prefiro me lançar contra espada”.
Numa manhã de inverno, quando o orvalho se dissipava em sua face morena, Cuabara decidiu mudar o curso do rio, o curso da vida. Pegou o trecho que levava a capital e remou ininterruptamente durante quase dois dias. As luzes nova-iorquinas eram seu único alento a cada braçada e os outdoors de um novo mundo pareciam convidá-lo a entrar. E entrou. Ao chegar na capital, Cuabara se dirigiu ao porto. Foi uma tremenda emoção conhecer o mar e maior ainda seria a utopia de cruzá-lo com sucesso. Foi assim, que sorrateiramente Cuabara entrou num navio que levava soja aos Estados Unidos.
Quando a luz do farol inglês o despertou, ele não podia acreditar no que seus olhos viam. O encontro enfim chegara: A criatura e o criador, o ódio e o amor.Tudo parecia se completar na alma ávida por liberdade do rapaz ao avistar os arranha-céus. Finalmente fazia parte do séqüito que cercava aquele lugar. Mas quem disse que somos donos de nossos passos? Apenas que andamos. Cuabara sabia andar, porém não sabia por que andava. Tão perto e tão longe. Viu-se dentro de águas que não eram o seu ribeiro. Afogou-se à dez metros da areia. O passeio não foi como o esperado. A noite em que saiu de casa prometia mudanças e cumpriu. Viveu a vida em uma noite. O que de fato seria melhor? Sofrer os presságios do destino, ou lutar contra as adversidades? Cuabara obteve a resposta.
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