É dada a largada. De todas as partes, do beco mais improvável da cidade aparecem candidatos sorridentes e eloqüentes, ávidos pela conquista dos votos que significarão quatro anos estabilidade. Oras, hoje em dia quem consegue receber seis mil reais, trabalhando poucas horas por dia? O pré-requisito é persuadir mil semelhantes a acreditarem na sua benevolência, altruísmo e principalmente visão de melhoramento social.
Os tímidos se tornam extrovertidos, os vulgares forjam certo freio moral, os leigos se esforçam na oratória e os corruptos, ah os corruptos se elegerão involuntariamente. Tudo o que obviamente não presta sempre me interessou muito. De tal modo que adoro analisar o perfil de cada candidato. O que, entretanto, tem me incomodado são os nomes irônicos e antológicos que eles lançam mão, a fim de se elegerem com mais facilidade.
Os candidatos acreditam, depois de brevíssimas lições de psicologia social, que se nós, os sonsos essenciais, associarmos seus nomes a seus negócios iremos de boa fé depositar nossos votos. Afinal, que motivo teríamos para desconfiar da competência de alguém que comanda um ‘buteco’, de quem lida diariamente com o alcoolismo? É que de repente nasceu a utopia da mudança e todos querem ser políticos para mudar as estruturas atuais: pelos menos as individuais, é claro.
Como dizia Nelson Rodrigues: “hoje em dia é difícil ser honesto. Todas as pressões cooperam para nosso aviltamento pessoal e coletivo”. Como posso acreditar na eficiência de alguém que sequer conhece a etimologia da palavra política? Tudo bem sobre a etimologia. Mas como posso acreditar na eficiência de alguém que apenas sabe juntar sílabas e sequer compreendeu as mendacidades que estou abordando? Quero a exposição de tudo, embora a verdade seja um relance que poucos captam, pois ela ainda não foi escrita – está nas entrelinhas.
Estou sendo manso, mas minha função de viver e denunciar a vida é feroz. Eles estão subestimando nossa capacidade mental, apelando para recursos prosaicos de associação. Se é necessário associar, é porque nunca ouvimos falar; logo, a procedência é dubitável.
Sinto é uma falta pungente de sinceridade em todos. Fala-se em democracia e cidadania, mas estes direitos que velam meu sono são tão irreais. Pago tanto e recebo tão pouco. É isto que eles têm para me oferecer? Às vezes não entender o funcionamento evita dores. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, uma doçura de burrice.
Porém, não posso ser arbitrário. As pessoas são iguais potencialmente. Pode ser que o inesperado traga coisas e a política se regenere, pois a eternidade é o estado das coisas neste momento, é próprio "statu quo". Estou certo de que não seremos enganados, não mais. Nós, os sonsos essenciais, somos no mundo de várias formas para preservar nossa liberdade. Na verdade a gente é sempre como você vê: podemos ser leves como uma brisa, ou fortes como uma ventania. Depende de quando e como nos vêem passar.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Nós, os sonsos - Por D. Donson
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