quarta-feira, 31 de março de 2010
Meus Ideais...
"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta do passado que o que mais queremos é sair do sonho e voltar no tempo. Sonho com aquilo que quero. Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer aquilo que quero. Tenho felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade. E a vida não é de se brincar porque em um belo dia se morre”.
Clarice Lispector
segunda-feira, 22 de março de 2010
Travessia - na voz de Elis Regina
Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver
Forte eu sou, mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho pra falar
Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der, não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver...
sexta-feira, 19 de março de 2010
Perdendo Para Se Achar...
Quando tá escuro e ninguém te ouve
Quando chega a noite e você pode chorar
Há uma luz no túnel dos desesperados
Há um cais de porto pra quem precisa chegar...
Uma noite longa por uma vida curta
Mas já não me importa basta poder te ajudar
E são tantas marcas que já fazem parte
Do que sou agora mas ainda sei me virar...
quinta-feira, 18 de março de 2010
Coração Quase Novo...
"Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o bastante para fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave no qual ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu em sua vida". Plínio Marques
terça-feira, 9 de março de 2010
A Ofensa de Um Capira - D. Donson
A verdade é um relance. Dia destes, caminhando despretensiosamente pelo sítio de uma amiga, vi um senhor de aparência fadigada sentado em frente a uma velha casa. Estava observando qualquer coisa depois da cerca que rodeava a propriedade. Não sei como explicar, mas, de súbito, soube a vida deste homem. Sim, de relance, me ocorreu em detalhes todo seu passado.
Os muitos filhos que criou, a terra em que lhes tirou o sustento, o suor e a luta de uma vida tão batalhada quanto anônima. E o pior anonimato é desconhecer o próprio esforço. Este senhor poderia ter vários nomes, mas decidi chamá-lo de Zé. Somente eu pude ver Zé na intimidade de seu momento impessoal, momento em que ele escolheu despojar-se de todos os seus papéis, sentar na varanda e apenas refletir sobre a imanência do eterno Nada.
Vi sim e, antes de tudo, ele era “um forte” como disse Euclides da Cunha. Não questionava e não se rebelava contra qualquer que fosse suas condições. Na certa não gozava de fartura, nem galinha havia em seu quintal. Mas aquela imagem bucólica me causou grande espanto. Também eu sou responsável por uma vida: a minha. E nunca saberei o que é ser outra pessoa, a não ser nestes raros instantes em que a verdade nos pega de assalto.
De repente, invejei Zé com olhos semicerrados de indignação: ele era parte de alguma coisa, um homem satisfeito com o seu corpo esquálido e sua postura desalinhada, alguém que pertencia ao lugar – Zé era pedaço de uma paisagem. Percebi que jamais conseguiria encarar o Nada com tamanha tranquilidade. E por um instante ele me olhou, mas por sorte não me viu. Sei que não viu porque sou estrangeiro naquelas terras.
Por vezes, porém, tive que encarar a vida e a sua grande esfinge. Fui enfático, quase áspero com minhas respostas simplistas: “vivo porque nasci e morrerei sem simbologias, como quem sai pela porta dos fundos. Insisto na sinceridade de um jogo aberto e queria que você, esfinge, não se escandalizasse com minhas questões. O que há atrás do pensamento, da consciência, do sangue pulsante, do ambiente em que me lançaram?” Não decifrei a esfinge até agora. Mas ela também não me decifrou!
No entanto, o homem continuava ali a me ofender com sua liberdade gratuita, como quem sabe o que esconde a grande esfinge. Eu não podia deixar barato: a melhor forma que encontrei de me vingar contra a ousadia de Zé e a obscuridade e o mistério do que não conheço foi vivendo, de forma inédita, até a última gota, ocupando um vasto lugar nesse planeta em que, meus Deus, somos tão estrangeiros... Contrariado e confuso, deixei aquele sertão para, mais tarde, cair em outros.
O sertão, na realidade, é essa sede insaciável de completude, é estes novos caminhos que, em mata fechada, sou obrigado a abrir. O sertão é esse silêncio excruciante das perguntas sem respostas, mas é também o alívio feliz de quem passa desapercebido pela vida. O sertão (conheço vários) é mais forte do que eu e me dilacera com o simples olhar de um caipira. O sertão não é o mundo: é a dor da descoberta do mundo.
Os muitos filhos que criou, a terra em que lhes tirou o sustento, o suor e a luta de uma vida tão batalhada quanto anônima. E o pior anonimato é desconhecer o próprio esforço. Este senhor poderia ter vários nomes, mas decidi chamá-lo de Zé. Somente eu pude ver Zé na intimidade de seu momento impessoal, momento em que ele escolheu despojar-se de todos os seus papéis, sentar na varanda e apenas refletir sobre a imanência do eterno Nada.
Vi sim e, antes de tudo, ele era “um forte” como disse Euclides da Cunha. Não questionava e não se rebelava contra qualquer que fosse suas condições. Na certa não gozava de fartura, nem galinha havia em seu quintal. Mas aquela imagem bucólica me causou grande espanto. Também eu sou responsável por uma vida: a minha. E nunca saberei o que é ser outra pessoa, a não ser nestes raros instantes em que a verdade nos pega de assalto.
De repente, invejei Zé com olhos semicerrados de indignação: ele era parte de alguma coisa, um homem satisfeito com o seu corpo esquálido e sua postura desalinhada, alguém que pertencia ao lugar – Zé era pedaço de uma paisagem. Percebi que jamais conseguiria encarar o Nada com tamanha tranquilidade. E por um instante ele me olhou, mas por sorte não me viu. Sei que não viu porque sou estrangeiro naquelas terras.
Por vezes, porém, tive que encarar a vida e a sua grande esfinge. Fui enfático, quase áspero com minhas respostas simplistas: “vivo porque nasci e morrerei sem simbologias, como quem sai pela porta dos fundos. Insisto na sinceridade de um jogo aberto e queria que você, esfinge, não se escandalizasse com minhas questões. O que há atrás do pensamento, da consciência, do sangue pulsante, do ambiente em que me lançaram?” Não decifrei a esfinge até agora. Mas ela também não me decifrou!
No entanto, o homem continuava ali a me ofender com sua liberdade gratuita, como quem sabe o que esconde a grande esfinge. Eu não podia deixar barato: a melhor forma que encontrei de me vingar contra a ousadia de Zé e a obscuridade e o mistério do que não conheço foi vivendo, de forma inédita, até a última gota, ocupando um vasto lugar nesse planeta em que, meus Deus, somos tão estrangeiros... Contrariado e confuso, deixei aquele sertão para, mais tarde, cair em outros.
O sertão, na realidade, é essa sede insaciável de completude, é estes novos caminhos que, em mata fechada, sou obrigado a abrir. O sertão é esse silêncio excruciante das perguntas sem respostas, mas é também o alívio feliz de quem passa desapercebido pela vida. O sertão (conheço vários) é mais forte do que eu e me dilacera com o simples olhar de um caipira. O sertão não é o mundo: é a dor da descoberta do mundo.
Assinar:
Postagens (Atom)