Querida S.E.A.,
A vida por aqui tem sido razoável. Você sabe que, embora tenhamos ocasião para nos falar pessoalmente, sempre fica faltando algo a ser dito. Nossas conversas vão bem além do cotidiano. Nossas conversas tratam de vida e de universo. Eu adoro nossas conversas! Quão vasto é o mundo e muitas vezes as pessoas apegam-se apenas ao lado superficial das coisas. E as pessoas, as pessoas andam tão confusas que parece um desafio até mesmo existencial viver em sociedade.
Querida S.E.A., não pretendo com esta carta dizer nada que faça muito sentido. Pelo contrário, apoiando-me nessa falta de nexo e de compreensão que muito me envolve é que decidi te escrever. E também não pretendo provar nada. Não quero assumir uma postura, você sabe. Me recuso a fazer uma escolha, não agora. Na verdade, no fundo a gente só está querendo provar para todos que não precisamos provar nada pra ninguém, não é? O que a gente quer é desabrochar de uma forma ou de outra.
Você sabe, S.E.A., abrir os olhos para o mundo é coisa vital para nós. Eu não suportaria nunca ser preso ou viver todos os meus dias neste mesmo lugar. Não que eu não ame as minhas raízes, não que eu não valorize cada centímetro destas paredes. Mas às vezes precisamos migrar, precisamos do calor de outros campos, precisamos do cheiro de terra fresca, precisamos do perigo que nos oferecem os nossos predadores. Porque sem eles, os predadores, jamais conheceríamos o tamanho e a extensão de nossas forças.
Sim, minha cara. Você, mais do que ninguém, sabe que o que eu falo não é o que eu falo e, sim, outra coisa. E estas palavras, na verdade, escondem outras. Mas você sempre foi boa e sensível para ler as entrelinhas, por isso, não me preocupo com outros possíveis leitores que eu jamais poderei supor. Eu realmente não sei porque, S.E.A., às vezes o que vemos quase ninguém vê. É sempre um jogo tão duro. É como estar ilhado, é como sentir solidão no meio dos outros, não é? Mas também não procuramos ninguém igual a nós. Estamos sendo tão tolerantes e tão compreensivos que até parecemos ingênuos embevecidos pelo delicado gosto da descoberta.
Eles confundem nossa tolerância. Confundem nossa simpatia com ingenuidade. Daí, quando mostramos que somos pensantes e, com ou sem humildade, cheio de opiniões, eles se assustam. Não sei porque escrevo. Acho que sobrei nesta noite e, pelo menos nesta noite, não há lugar confortável para mim. Mas olha, tenho andado com fé, viu? Os dias estão muito estranhos, tem noites que não durmo bem. Sinto gosto de uma nostalgia na boca, como saudade daquilo que a gente não viveu. É como se eu fosse bem mais velho. Tenho apenas 20, mas estou assustado. “Ontem de manhã, quando acordei, olhei para vida e me assustei: eu tenho mais de 20 anos”. Hehehe.
Ainda assim tenho andado com fé, como você me recomendou. Acho que é esse fogo, esta utopia, este total desprendimento que sinto pela idéia do fracasso que me motiva. Eu sinto que não seremos derrotados, tampouco irão abarcar nossas ideias. Sinto que não somos do tipo que se adequa ou se acomoda com o tempo. S.E.A., somos imparáveis! E é isso que vamos levar, ou que vai nos levar sempre adiante. A resposta é e sempre foi o nosso caminho. Continuemos, pois, a olhar para frente, para a natureza que sempre envia consolo, para Deus que nos dá esperança, para o outro que é fundamental para nos suportamos e, sobretudo, para nós. Tudo depende de nós. Andando com esta fé que jamais costuma “faiá”!!! De qualquer luta ou descanso, nos levantaremos fortes, ávidos, obstinados e belos como cavalos novos.
Cheers,
Dani
2 comentários:
Meu amigo querido,
Antes de tudo, sinto-me lisonjeada!!!
Ah! Discutir vidas e Universo...
Nossa, você escreveu tudo e mais um pouco... Concordo com cada palavra que você escreveu, principalmente, quando você disse que "Eles confundem nossa tolerância. Confundem nossa simpatia com ingenuidade. Daí, quando mostramos que somos pensantes..." Meu Deus, o que acontece???
Acho incrível e ao mesmo tempo cansativo essa sensação de incômodo que aparentemente causamos... quando o que mais queremos é nada além de sermos nós mesmos, não é?
Será que é tão difícil assim aceitar que também precisamos muitas vezes achar explicação para o que sentimos?
Pois é, estamos realmente na fase de abrir os olhos para o mundo... E muitas vezes essa nossa migração faz com que fiquemos expostos de uma forma muito diferente do "nosso normal".
Mas como vocês mesmo disse, precisamos do perigo que nos oferecem os nossos predadores. Então, que venham os predadores! Prefiro mil vezes, matar um leão por dia, do que jamais sentir a dimensão da minha capacidade e força.
"Eu sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura." (Fernando Pessoa)
Super bjo:)
Nossa..sei que isso não vem ao caso, mas quando eu leio o seu blog eu não acredito que vc tem só 20 anos! rsrs
Belíssimo texto Daniel!
Beijo(:
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