Corro muitos perigos, como toda pessoa que vive. Também eu estou vulnerável a todo e qualquer ataque – inclusive do amor. Não posso dizer, contudo, que aprendi muitas coisas nesta vida, porque não aprendi. Apenas finjo ter assimilado a lição para novamente cair nas graças do erro. Só sei de três coisas: nasci para escrever, nasci para ser livre e nasci para deixar a minha marca neste solo – o feto relutante, o feto rebelde que sobreviveu.
Uma vez eu provei da delicadeza da liberdade. Eu nunca soube ao certo o que é ser livre. Foi numa tarde de maio, o sol queimava como em um inferno. Sozinho, casa vazia. Peguei minhas economias – nunca consegui guardar economias – peguei minhas economias e comprei um suntuoso pote de sorvete de milho. Acredite, as pessoas de minha época ostentam certo preconceito em relação ao sabor milho. Eu não as condeno – também eu detinha esta aversão antes de prová-lo.
O fato é que o sabor milho é sim sobrenatural e causa demasiado prazer em quem o prova. Eu, sentando em cima da árvore de meu quintal: eu e o sorvete, nós apenas. Isso era liberdade. Sem receio de ser egoísta, eu provei da liberdade azul, da liberdade primeira que é o ato sem culpa. E a brisa era leve. Os galhos tremeluziam as sombras refrescantes por sobre minha pele. Juro que aos poucos me tornei parte daquela árvore que eu mesmo havia plantado. Já não era mais um garoto com o pote de sorvete: era uma parte da vida íntima da árvore, que hoje é árvore, mas amanhã se torna adubo orgânico para novas árvores. Essa era a lei e deveria ser respeitada.
Foi a única vez que fui livre por completo. Minto. Houve uma outra ocasião. É que certa noite eu olhei para lua e pude ver o que S. Jorge supostamente escamoteia. Foi bem aterrador. Porém não posso contar por uma questão de ética. E também porque ninguém acreditaria na minha versão – ocular – da relação de S. Jorge com o Dragão. Estas foram as vezes em que provei de liberdade, no regalo de uma vida tão singela quanto anônima e voluntariamente solitária.
Nos tempos modernos, nestes dias tão imperfeitos, estou tendo a ousadia de amar. Com muito medo e precaução, mas amor ainda assim. As vezes penso que amar é como tomar sorvete de milho: não há contra-indicações, mas o excesso pode estragar a saúde. Por isto, tenho tentado amar aos poucos para não sufocar e não causar dano aos pulmões.
É bem verdade que amar é estar preso a uma liberdade que só é válida agora e que expira no instante seguinte. Para não correr mais este risco, criei a “máquina do amor”, um arquétipo ainda em fase de experimentação, mas que serve para produzir afeto por tempo indeterminado - pode sempre ser desligado - ao bel-prazer de seu usuário. Esta máquina revolucionária é capaz de produzir toneladas de amor, o que fomenta a sensação de liberdade do usuário.
Eu particularmente tenho medo da máquina. Eu, que sempre quis esticar um pouco mais a liberdade, vejo que posso estragar tudo com este protótipo. É que em matéria de amor, não é possível usar de fórmulas ou cálculos. Amar é uma soma de incompreensões mútuas. Deste modo, concluo que ser livre não é compatível com o amor. Ser livre é viver e morrer de forma alternativa e despojada, enquanto que amar é estar acorrentado a uma alma, é sentir prazer em apertar os grilhões a cada dia para estar mais perto: é ter os lábios inchados por não querer separar a boca...
Eu, que nunca me habituei a mim, desconfio que acorrentando minha alma a de outrem, poderei driblar todo o sistema e ser livre. Sim, claro, amar e ser livre seria meu golpe final, meu grito irônico de vitória sobre a vida e sobre os seres rastejantes que se recusam a amar, mas amam o cativeiro. Pois eu, sem modéstia, escolho a melhor parte de tudo. Quero viver um grande amor. Sem datas obsoletas ou prazos de validade, mas que ele seja grande, maior do que eu e me ultrapasse e me transcenda. Porque estou vivo e reivindico minha liberdade e minha fuga. Enquanto eu respirar, prometo que amar e ser livre serão coisas emergenciais.
Uma vez eu provei da delicadeza da liberdade. Eu nunca soube ao certo o que é ser livre. Foi numa tarde de maio, o sol queimava como em um inferno. Sozinho, casa vazia. Peguei minhas economias – nunca consegui guardar economias – peguei minhas economias e comprei um suntuoso pote de sorvete de milho. Acredite, as pessoas de minha época ostentam certo preconceito em relação ao sabor milho. Eu não as condeno – também eu detinha esta aversão antes de prová-lo.
O fato é que o sabor milho é sim sobrenatural e causa demasiado prazer em quem o prova. Eu, sentando em cima da árvore de meu quintal: eu e o sorvete, nós apenas. Isso era liberdade. Sem receio de ser egoísta, eu provei da liberdade azul, da liberdade primeira que é o ato sem culpa. E a brisa era leve. Os galhos tremeluziam as sombras refrescantes por sobre minha pele. Juro que aos poucos me tornei parte daquela árvore que eu mesmo havia plantado. Já não era mais um garoto com o pote de sorvete: era uma parte da vida íntima da árvore, que hoje é árvore, mas amanhã se torna adubo orgânico para novas árvores. Essa era a lei e deveria ser respeitada.
Foi a única vez que fui livre por completo. Minto. Houve uma outra ocasião. É que certa noite eu olhei para lua e pude ver o que S. Jorge supostamente escamoteia. Foi bem aterrador. Porém não posso contar por uma questão de ética. E também porque ninguém acreditaria na minha versão – ocular – da relação de S. Jorge com o Dragão. Estas foram as vezes em que provei de liberdade, no regalo de uma vida tão singela quanto anônima e voluntariamente solitária.
Nos tempos modernos, nestes dias tão imperfeitos, estou tendo a ousadia de amar. Com muito medo e precaução, mas amor ainda assim. As vezes penso que amar é como tomar sorvete de milho: não há contra-indicações, mas o excesso pode estragar a saúde. Por isto, tenho tentado amar aos poucos para não sufocar e não causar dano aos pulmões.
É bem verdade que amar é estar preso a uma liberdade que só é válida agora e que expira no instante seguinte. Para não correr mais este risco, criei a “máquina do amor”, um arquétipo ainda em fase de experimentação, mas que serve para produzir afeto por tempo indeterminado - pode sempre ser desligado - ao bel-prazer de seu usuário. Esta máquina revolucionária é capaz de produzir toneladas de amor, o que fomenta a sensação de liberdade do usuário.
Eu particularmente tenho medo da máquina. Eu, que sempre quis esticar um pouco mais a liberdade, vejo que posso estragar tudo com este protótipo. É que em matéria de amor, não é possível usar de fórmulas ou cálculos. Amar é uma soma de incompreensões mútuas. Deste modo, concluo que ser livre não é compatível com o amor. Ser livre é viver e morrer de forma alternativa e despojada, enquanto que amar é estar acorrentado a uma alma, é sentir prazer em apertar os grilhões a cada dia para estar mais perto: é ter os lábios inchados por não querer separar a boca...
Eu, que nunca me habituei a mim, desconfio que acorrentando minha alma a de outrem, poderei driblar todo o sistema e ser livre. Sim, claro, amar e ser livre seria meu golpe final, meu grito irônico de vitória sobre a vida e sobre os seres rastejantes que se recusam a amar, mas amam o cativeiro. Pois eu, sem modéstia, escolho a melhor parte de tudo. Quero viver um grande amor. Sem datas obsoletas ou prazos de validade, mas que ele seja grande, maior do que eu e me ultrapasse e me transcenda. Porque estou vivo e reivindico minha liberdade e minha fuga. Enquanto eu respirar, prometo que amar e ser livre serão coisas emergenciais.
6 comentários:
DANI.....QUE LINDO TEXTO....
SABE,DEPOIS DE LÊ-LO EU IMEDIATAMENTE ME LEMBREI DE UMA CANÇÃO DE BETO GUEDES...
EIS:
''O medo de amar é o medo de ser
livre para o que der e vier
livre para sempre estar
onde o justo estiver
O medo de amar é medo de ter
de todo momento escolher
com acerto e precisão
a melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis
em nossa casa fechada entrar - pra ficar
O medo de amar é não arriscar
esperando que façam por nós
o que é nosso dever - recusar o poder.....''
E SÓ POSSO TE DIZER DANI,QUE VC ME PRESENTEOU DE NOVO COM BELÍSSIMAS PALAVRAS........
E RENOVOU TAMBÉM MINHA CERTEZA DE QUE QUERO É MAIS AMOR EM MINHA VIDA.....AMOR E LIBERDADE.....
QUE QUERO TER ESSA SENSAÇÃO DE SEMPRE ESTAR COM UM POTE DE SORVETE DE MILHO EM MINHAS MÃOS....EM ÁRVORES IMAGINÁRIAS OU NÃO......
UM GRANDEE BJ PARA VC!!
Que seu Ano Novo seja regado de muita
Veuve Clicquot Ponsardin, muita fartura e felicidades o Ano Inteiro!
Besos e até 2009!!!!
abraços..nao besos..kkkk
desculpe..rs
vi a joyce encima..rsrs
Realmente a liberdade pode se dizer atualmente que é descrita por simples momentos e que ela é um estado de espírito em que nos esvaziamos de qualquer opressão de fora.E que não há nada mais bonito que sentir essa liberdade com o amor,sentimento mais bonito e que nos leva a descobrir essa essência de ser livre.
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