segunda-feira, 23 de abril de 2012

Destino - D. Donson

  Chega a ser uma mutação: meu mundo cai várias vezes e eu me adapto rapidamente aos novos sentimentos. No instante seguinte, sou obrigado a esquecer o que eu sentia, fingir que não existe, até que não existe mais.

Será esse o meu destino: viver de glória em glória e de realidade em realidade. Sem nunca encontrar o meu centro, resignação e novo amanhecer. Desertos e dilúvios, amor e desencanto. Violento e fugaz, eu amo tudo de uma vez, guardo sempre um pouco mais.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Impressões do mundo gay (!?) - D. Donson


Fico impressionado com a superficilidade de alguns faggies.Especialmente os bonitos num primeiro momento (!?). Ficam tão deslumbrados com o pseudo-mundo de "coisas". Não que as "coisas" não sejam boas e importantes, mas elas não são suficientes.

Essas "coisas" (não vou explicar) distanciam ainda mais o caminho de encontro entre uma pessoa e a outra. Faggies, por favor, vamos ter propósitos maiores e mais elevados. Você pode ter um corpo bonito desde que tenha uma alma dentro.

domingo, 15 de abril de 2012

As primeiras dores do amor livre - D. Donson


Deveria haver uma forma de amar sem doer. Amar dói muito, tira o sono, queima-se em febre e em ansiedade. A vontade de unir-se completamente ao outro ser, para sempre, oh, para sempre.

A dor já começa por saber que o "para sempre" não vai exister. A garantia e o dever é o de viver uma vida inteira a cada dia que se nos dá ao lado da pessoa que amamos. E que sequer sabemos porque amamos.

Sabe-se os olhos faiscantes, a vontade de não desagradar, o desejo secreto de oferecer o melhor, de ser espontâneo, de atravessar os becos mais escuros e os vales mais derradeiros só para no fim dizer: puxa, veja pelo que "passamos"! E essa vontade de pronunciar a terceira pessoa do plural é um sinal inequívoco de que tudo está perdido, você está rendido à alegria angustiante do amor.

O "nós" é o golpe último na racionalidade, é quanto realmente começa a doer. Mas não tenho medo da dor, pois nela não sofro. E se meu amor, hora ou outra, com ou sem prévia explicação, não for correspondido, desligo o botão. Sim, dói ainda mais, é algo terrível como um soco no estômago - mas necessário.

Vou até onde o teu olho faiscante me acompanhar. Por que olhos tão brutais e selvagens? Por que essa expressão inumana? acho que você é um ser de outra época, acho que você tem em si o mistério da origem do homem, sua força me assusta e me seduz. Você a desconhece. Essa força, sim, eu amo essa força que vem de você e, às vezes, me é dada.

Breves. Tão breves são os momentos de liberdade solta, nua, inefável. Quando estou com você sinto a possível liberdade, sinto sua aproximação. Eu amo a liberdade sem nome que você possui, aprenderei a ser livre como você, talvez junto com você, até que o vento nos separe. Até que o vento nos separe. Até que um de nós voe. Ou os dois.

domingo, 8 de abril de 2012

Glória íntima - D. Donson


Como explico que tive hoje, finalmente, um dia feliz? Como explico, sem uma palavra que me contradiga, que tive o dia mais feliz da minha vida? Que estranha sensação de egoísmo por ter tido o mundo inteiro de uma pessoa. Não é egoísmo porque também compartilhei o meu inteiro mundo. Mas é uma alegria que entorpece assim como a plenitude e a eternidade também entorpecem. Quer-se completamente mais. Quer-se falar em "sempre". Mas não posso usar o "sempre". Erramos dando um nome, temos que viver essa glória íntima segundo a segundo e anonimamente.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O instinto de liberação - D. Donson

Queria tanto encontrar um meio de enlouquecer. Preciso muito dar um destino para minha loucura guardada.

A sobriedade está, pouco a pouco, me tornando mais humano e menos "eu". Eu não sou tão humano.

E guardo em segredo minha voracidade de expansão, minha vontade de montar em um cavalo e galopar sem freio. Galopar sem freio para... não importa para onde.

A minha loucura é o oposto da radicalidade dessa vida cotidiana e cheia de convenções sociais. Eu ainda quebrarei muitos pratos só para ouvir os estilhaços cortarem o silêncio, a monotonia de alguns domingos meus.

E um dia encontro esse cavalo de que falo. Cavalo que me levará para... para onde não importa. Me levará.