quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Número zero - D. Donson

O primeiro dos dígitos. Quando nascemos, ele inicia uma contagem abstrata, a qual sabe-se por onde começa, porém o fim é um grande mistério. Um número vazio, que não chama a atenção para si e não incita desejos.

O Brasil, por sua vez, tem se tornado perito em multiplicação se escândalos públicos. Já não é mais necessário citar um acontecimento específico em Brasília, pois além de ninguém mais erguer as sobrancelhas, seria injusto avacalhar somente um em meio a tantos.

Genuinamente, todos os artigos que leio, dizem a mesma coisa: A ética política foi sepultada de tal forma, que nem Deus sabe ao certo sua localização. Entretanto, há quem diga que não se trata de uma questão geográfica, e sim, histórica. Alegam que o governo de “Fulano de Tal” aliado ao partido “Sicrano”, colocou rédeas no desenvolvimento.

Particularmente, não creio que tenha sido exatamente assim. Talvez, grande parte destas conquistas, deva-se à geração visionária que constituía o país nestes períodos. Sempre houve rumores de que a união faz a força. De fato, ela é intrínseca quando se pretende impor ou reinventar a ordem e o progresso que a muito não se vê.

Sabe-se que sozinhos nada somos. Nesta era de informações, é possível notar que há uma falta latente de formação, de construção dos indivíduos que compõe nossa sociedade. A soma, o altruísmo, os vínculos com os assuntos que nos dizem respeito são elementos fundamentais para resolver as crises. Mas veja, não diga que a canção está perdida. Tenha fé em Deus, tenha fé na vida! Vamos tentar outra vez, pois o Zero + “Eu” é igual a “Eu”. Contudo, o Zero + “Eu” + “Você” é igual a “Nós”; a primeira pessoa do plural e única capaz de aniquilar a inércia dos bons, de destruir muralhas, de ratificar legados e provocar mudanças.

Nada de clichês. Os cara-pintadas, por exemplo, já tiveram a sua chance. É chegada a hora de limparmos a cara do Brasil, pois, como dizia Elis Regina, o novo sempre vem. Uma elite intelectual não é o suficiente. Por mais belas e virtuosas que as palavras sobre o papel possam parecer, a eloqüência jamais chega as grandes massas. É neste instante que o número zero ganha um sentido extraordinário: quando se sente o miasma da realidade e não se tem perspectiva alguma de redenção, a solução pungente é retomar, recomeçar.

Nelson Rodrigues dizia que hoje é muito difícil não ser canalha, posto que todas as pressões cooperam para nosso aviltamento pessoal e coletivo. Mas não sejamos pessimistas. O maior aviltamento que existe, é negar a existência de um futuro – seja ele qual for. Um futuro. Certamente o relógio marcará zero horas, e enquanto tivermos ar nos pulmões, teremos que despertar.

Um consolo: existem seis bilhões de pessoas insatisfeitas por algo. Em suma, não é fácil cogitar soluções tangíveis para todos os flagelos e dissabores que nos circundam.

Achou esta frase piegas? É mesmo. Nem tudo é poesia ou lógica. A miséria humana é transformada em versos para nos ajudar a acreditar que as coisas não são tão radicais e inflexíveis. E não são. Aliás, depende do ponto de vista. Eu prefiro ouvir esta voz que canta, esta voz que dança, esta voz que gira bailando no ar.

E o número zero? Permanecerá sendo transparente e otimista: “até hoje nada sou, mas contigo serei dez.”

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